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  Introduction

No Brasil, costuma-se dizer que, graças à Napoleão Bonaparte, o país teve sua primeira prensa oficial em maio de 1808. Quando as tropas francesas invadiram Portugal no final de 1807, o rei D. João VI, a família real e a corte embarcaram para o Rio de Janeiro – o que explica uma fabulosa coleção de centenas de gravuras de Dürer, livros de horas e mapas do século XVI hoje na Biblioteca Nacional, um acervo de aproximadamente 60 mil volumes na época. Entre os pertences reais havia caixas trazidas de Londres contendo prensas e tipos móveis para serem utilizados pelo governo em Lisboa. As caixas embarcaram para o Brasil no mesmo navio Meduza em que viajou Antonio de Araújo de Azevedo, o Conde da Barca.

Ao chegar ao Rio de Janeiro, o Conde da Barca instalou as prensas no porão de sua casa. Um homem de muitos interesses, trouxe sua coleção de Mineralogia, assim como instrumentos de laboratório. Azevedo cultivou um jardim de cerca de 1400 plantas exóticas e brasileiras em seu próprio quintal, mais tarde conhecida por “Hortus Araujensis” e catalogada por Ferdinand Denis. No mesmo porão foi criada uma fábrica de porcelana, um laboratório de química para experimentos com plantas nativas, e uma destilaria nos moldes das escocesas da qual ele extraía “água inglesa” e remédios. Ele igualmente trouxe sua própria biblioteca de mais de 6 mil volumes, porteriormente incorporada à Biblioteca Nacional.

A primeira diretoria (Junta) da Impressão Régia (1808-1815), já nos primeiros anos de seu funcionamento, tinha por objetivo criar uma fábrica de fundição de tipos móveis no Rio de Janeiro. Para isso, Alexandrino José das Neves foi enviado à Inglaterra para treinamento com a responsabilidade de, na volta, estabelecer a fábrica no Brasil - o que nunca aconteceu, pois assim que chegou ao Brasil ele retornou à Lisboa para trabalhar na Impressão Régia desta cidade.

A Impressão Régia iniciou suas atividades no dia de sua criação: 13 de maio de 1808. Imprimiu o panfleto Relação dos Despachos, assim como outros documentos oficiais. De acordo com Valle Cabral, foram impressos 1154 itens entre 1808 e 1822, a maior parte decretos, alvarás, sermões, alguns livros, panfletos, etc.

Em 10 de setembro de 1808 a Impressão Régia publicou o primeiro jornal brasileiro, a Gazeta do Rio de Janeiro, extraído da Gazeta de Lisboa - esta, por sua vez, uma tradução de jornais ingleses. Meses antes, em Londres, o brasileiro de alma Hipólito da Costa havia fundado o Correio Brasiliense ou Armazén Literário, por 13 anos o único periódico independente a levar informação aos brasileiros, apesar da distância. Costa foi incansável em sua luta contra a escravidão e o status colonial brasileiro. Nasceu na Colonia do Sacramento, estudou no Rio de Janeiro e depois em Coimbra, onde recebeu os graus de doutor em Leis, Matemática e Filosofia. Em 1798, como funcionário do governo português, foi enviado aos Estados Unidos (onde consta que se juntou aos maçons, na Filadélfia, um marco em suas idéias "revolucionárias"). Perseguido pela Inquisição, foi mais tarde para a Inglaterra. A vez seguinte que entrou em Portugal foi preso, onde ficou por quase 3 anos, e de onde fugiu disfarçado de criado, ajudado por amigos maçons.

De volta à Londres, tornou-se o principal editor e autor do Correio Brasiliense, importante veículo de denúncia da má conduta de políticos portugueses, suborno, nepotismo e abusos de poder, tanto da Igreja quanto da Corôa. O periódico também continha notícias de todo o mundo, ensaios em literatura e cultura, além de fortemente apoiar os movimentos de independência na América espanhola. O regime imperial proibiu a entrada do Correio em Portugal e no Brasil através de várias tentativas até 1817, sem sucesso. O prestígio de seu autor era tamanho que, após a independência em 1822, Costa tornou-se embaixador especial do Brasil na Corte britânica. (Annals of Colonial Brazil, an exhibition at the JCB in 2000)

Desde 1770 havia no Brasil prensas de madeira. Um alvará de 8 de agosto desse ano oferece "privilégio e isenção de taxa às pessoas que confeccionassem cartas de jogar" na Bahia. Mas foi em 1809 que a primeira prensa de madeira foi construída, e em 1813 que matrizes para a fabricação de tipos foram criadas para a Impressão Régia.

Uma nova fase da Impressão Régia foi inaugurada com a segunda Junta (1815-1830), agora também conhecida como Officina Real. A Real Fábrica de Cartas de Jogar retornou a mãos de particulares, e em 1821 o Brasil contava com 7 oficinas, então já consideradas insuficientes. Em 1821 e 1822 a Impressão Régia usou os seguintes nomes: Impressão Nacional, Imprensa Nacional, Tipografia Real, Tipografia Régia, Tipografia Nacional, Régia Tipografia e Real Tipografia. O ano de 1821 igualmente marca o início da liberdade de imprensa com a Typographia de Moreira e Garcez e da Nova Officina Typographica.

Uma rápida história sobre a tipografia no Brasil

Há chances de a tipografia ter sido introduzida no Brasil, Pernambuco, pelo Conde Maurício de Nassau, em meados do século XVII, durante a ocupação holandesa no nordeste brasileiro. Sabe-se que as prensas e os tipos móveis foram enviados da Holanda e que o tipógrafo Pieter Janszoon morreu a caminho do Brasil ou logo após chegar ao país.

Nova tentativa foi feita no início do século XVIII em Recife, igualmente sem sucesso. Durante o governo de Francisco de Castro Morais, um comerciante desconhecido montou uma pequena prensa e imprimiu alguns sermões e letras de câmbio. Nada sobrou da produção dessa tipografia. Temos notícia da iniciativa graças a uma Carta Real de 8 de junho de 1706 proibindo e confiscando o material impresso.

Aproximadamente 40 anos mais tarde, o bem sucedido impressor português Antonio Isidoro da Fonseca publicou quatro trabalhos em sua oficina no Rio de Janeiro, com a permissão do governador Gomes Freire de Andrade. O mais conhecido é Relação da entrada que fez o excellentissimo, e reverendissimo senhor D. F. Antonio do Desterro Malheyro bispo do Rio de Janeiro, em o primeiro dia deste prezente anno de 1747, por Luiz Antonio Rosado da Cunha. O empreendimento teve vida curta: a tipografia foi fechada e enviada de volta à Portugal. Fonseca não obteve mais permissão para voltar a imprimir no Brasil. Atualmente esse é tido como o primeiro livro impresso no país.

Até meados do século XIX outros estados brasileiros fundaram suas oficinas tipográficas: a Bahia, em 1811; Recife, 1815 (na realidade, esta teve início em 1817, durante a revolução, e continuou até 1821); Maranhão e Pará, 1821; Minas Gerais, 1822; Ceará, 1824; Paraíba, 1826; São Paulo e Rio Grande do Sul, 1827; outras cidades do estado do Rio de Janeiro, 1829; Goiás, 1830; Santa Catarina e Alagoas, 1831; Rio Grande do Norte, Piauí e Sergipe, 1832; Espírito Santo e Mato Grosso, 1840; Paraná, 1849 e Amazonas, 1852.

Tanto Rizzini (p. 317) quanto Valle Cabral (p. xiv, introdução) afirman que o Brasil teve prensas e tipos móveis enviados da Inglaterra. Sobre a prensa de Isidoro da Fonseca, Sodré cita um documento real de 6 de julho de 1747 através do qual o rei ordena o confisco de uma variedade de tipos que haviam chegado ao Brasil naquele ano, mandando que fossem enviados de volta à Portugal.

Talvez a história da tipografia no Brasil ainda possa revelar fatos inesperados.

(Traduzido de Valle Cabral, Rizzini e Sodré)